terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Quadrinhos Ácidos Sobre o Mundo Urbano

A evolução das metrópoles brasileiras entre as décadas de 1980 e 1990 não é contada somente nos livros de história. Essa observação também foi ilustrada em tirinhas, charges e revistas em quadrinhos da época. É na reunião desse tipo de material gráfico que o público poderá fazer viagem ao passado por meio da exposição Cidades em Tiras: A Metrópole Brasileira Através das Histórias em Quadrinhos. A atração toma conta da galeria do Sesc Santo André e fica em cartaz até 9 de março.
A ideia é explorar a visão ácida que artistas do gênero tinham sobre o que viam à sua volta, uma vez que desenvolviam seu talento em meio a um período marcado por agitações políticas, como a elaboração da Constituição de 1988 e o movimento Diretas Já. Se movimentos culturais mais tradicionais sofriam com censura, o universo underground servia de inspiração para quadrinistas como Adão, Glauco, Luís Gê, Newton Foot e Spacca.
“A exposição vale para que possamos repensar a situação das grandes cidades, que ainda sofrem com problemas como trânsito, violência e poluição”, explica o curador André Luís Sanchez Cezaretto. “ Temos essas metrópoles como cenários nas mãos desses artistas, com seus prédios e ruas. E também há uma segunda parte na qual exploram o cotidiano e a questão de enfrentar seus desafios. Essas histórias em quadrinhos têm um contato direto com as pessoas. Lê-las significa falar com nós mesmos.”
Parte do acervo pertence à coleção pessoal de Cezaretto, confesso fã de HQ desde a adolescência. Estão espalhadas pelo local exemplares de publicações alternativas e voltadas aos leitores adultos, casos de Chiclete com Banana (de Angeli), Piratas do Tietê (Laerte) e Níquel Náusea (Fernando Gonsales). Alguns dos autores visitarão o Sesc andreense no início do ano para comandar atividades para tornar a exposição mais interativa.

A curiosidade do curador será perceber como o público mais jovem irá receber um material considerado ‘transgressor’. “Parte da garotada não tem ideia da importância desses caras. Meio que sem querer, eles formaram uma espécie de movimento social que transformou a história do quadrinho brasileiro.”

Cidades em Tiras: A Metrópole Brasileira Através das Histórias em QuadrinhosExposição. No Sesc Santo André – Rua Tamarutaca, 302. Tel.: 4469-1200. Terça a sexta, das 10h às 22h; sábado, das 10h às 20h; domingo, das 10h às 19h. Grátis. Até 9 de março.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Esperança Para Superar a Melancolia

 
Os dramas da Segunda Guerra Mundial sempre rendem histórias repletas de carga emocional. Em um ambiente no qual o mundo talvez tenha vivenciado o auge da desolação, há muito para se explorar além da ação dos combates. São com essas possibilidades sentimentais que o escritor australiano Marcus Zusak lançou em 2005 o romance A Menina Que Roubava Livros, que não demorou para se transformar em um best-seller mundial.
Claro que o sucesso do livro chamou a atenção de Hollywood e sua versão para as telonas chega hoje às salas brasileiras. O longa-metragem acompanha a vida da pequena Liesel (Sophie Nélisse), recém-adotada pelo casal Hans (Geoffrey Rush, sempre competente) e Rosa (Emily Watson). Ela acaba de perder a família e, com a ajuda do amoroso novo patriarca, descobre a paixão pela leitura. O universo de palavras e a possibilidade de se jogar em outras realidades funciona como válvula de escape para que a garotinha esqueça os problemas que a envolvem, como a falta de comida em casa e a ida de entes queridos para a guerra.
Mas não só do furto de livros vive o roteiro. Como outros filmes do gênero, caso da também adaptação O Menino do Pijama Listrado (2008) – e com o qual parte do público deve comparar o trabalho do diretor Brian Percival (com carreira no comando de séries, entre elas a elogiada Downton Abbey) – a ideia é apresentar os dramas da Segunda Grande Guerra de um ângulo mais humano.
Liesel compreende a importância de Hitler para a Alemanha onde mora, mas não tem ideia do que uma simples resposta torta para um soldado pode custar. A chegada de um inesperado visitante à sua residência na calada da noite aflora seu amor pelo próximo e pelos romances que devora. Neste conto onde a morte observa tudo, a Rua Paraíso é melancólica. Não espere sair da sala com lágrimas de alegria. A tristeza carrega o filme desde o início.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Marcelo D2 Comanda Festa Underground

O estouro da mistura do rock com o rap que marca o som do Planet Hemp completou duas décadas no ano passado. Entre término e retorno do grupo e uma consolidada carreira solo, Marcelo D2 não parou sua procura pela batida perfeita. A mais recente cartada de sua pesquisa sonora, que ainda flerta com estilos como hip hop, samba e música pop, é o disco Nada Pode Me Parar, lançado em maio.
“A cada dia você aprende uma coisa e o mercado mudou muito, principalmente nesses últimos 20 anos. Vi nascer e morrer o CD. Lembro que lançamos o primeiro disco do Planet Hemp em LP e quem tinha CD eram só os tops, como Djavan e Roberto Carlos”, recorda D2. “O tempo mudou e eu mudei junto. Hoje eu já conheço melhor os caminhos para ir atrás das letras e dos sons que desejo. Essa é a parte boa de ser um quase veterano.”

Esta temporada promete ser especial para o carioca, uma vez que ele se prepara para gravar o primeiro DVD ao vivo da carreira. As apresentações ocorrem sexta (31/01) e sábado (01/02) no Audio SP, nova casa de espetáculos da Capital. Ainda há ingressos para a atração e os preços variam entre R$ 40 (meia-entrada) e R$ 80. As entradas podem ser compradas pelo site Ticket 360º e em pontos de venda. A classificação indicativa é 18 anos.
Após se aventurar em muitos formatos, D2 afirma que um registro ao vivo faz falta para a jornada musical que tem feito. “Na verdade, não sei como demorou tanto. A verdadeira energia está no palco e as músicas sempre ficam mais interessantes. Tudo acaba sendo rápido e dinâmico, como se tivesse tocando uma mixtape.”

As noites não terão apenas shows, cujo repertório irá mesclar composições recentes, caso de Você Diz Que O Amor Não Dói e Está Chegando a Hora (Abre Alas), com hits de diferentes momentos de seu passado, entre eles Mantenha o Respeito, Qual É e A Maldição do Samba. O objetivo é transformar o local em uma enorme festa underground. Uma pista de skate estará aberta para ser utilizada, exposição fotográfica promete entreter os participantes, fliperamas estarão espalhados pelo espaço e está confirmado um torneio do game Fifa 14 – jogo do qual o cantor é fã e conta com música na trilha sonora oficial.
 
Entre as demais atividades, destaque para a Rádio Nada Pode Me Parar, atração na qual convidados como Rappin’ Hood, Akira Presidente (abaixo) e os grupos Haikaiss e Start (acima) revelarão algumas músicas e falarão com o público. Um apresentador irá comandar as ações. “Estava pensando na importância do ritual de se ir a um show. Nesta turnê quero levar o público ao máximo para dentro dessa agitação”, explica.
A semana também marca o início do lançamento dos videoclipes para todas as 15 faixas de Nada Pode Me Parar. São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, Nova York, Los Angeles e Luanda são algumas das cidades que serviram de cenários para as produções. Três já estão no ar e a ideia é de que um novo material seja jogado on-line na página no YouTube a cada quinta-feira a partir de amanhã.

Marcelo D2Show. Sexta e sábado, às 22h30. No Audio SP – Av. Francisco Matarazzo, 694, São Paulo. Tel.: 2027-0777. Ingr.: R$ 40 (meia-entrada) e R$ 80.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Ilustrações Celebram Uma Cinquentona

No ano passado, a pequena Mônica completou 50 anos e um livro com versões da personagem fechou um grande ciclo de comemorações. Mônica(s) (Panini Comics, 160 páginas, R$ 99 em média) reúne trabalho de 150 convidados que revelam sua própria visão para a eterna rainha da Rua do Limoeiro com traços e ideias que chegam bem longe da original.
Os organizadores chamaram um total de 150 artistas para participar do projeto. Entre os nomes selecionados estão Fernando Gonsales, Orlandeli, Samuel Casal, Danilo Beyruth, Luke Ross, Mike Deodato Jr., Roger Cruz, Sabrina Eras e o veterano Ziraldo. Alguns deles, casos de Gustavo Duarte e os irmãos Lu e Vitor Cafaggi, estão no time de quadrinistas que estão reinventando as criações de Mauricio de Sousa em graphic novels – Pavor Espaciar e Laços, respectivamente. Uma pequena parte do material já entrou no livro Mônica 30 Anos, lançado na década de 1990.
Grande parte dos brasileiros teve contato com as histórias em quadrinhos por meio da Turma da Mônica. Entre os influenciados pelos contos criados por Mauricio de Sousa ao longo das décadas estão os irmãos Magno e Marcelo Costa, de Santo André, hoje entre os destaques da nova geração de quadrinistas brasileiros.

“Praticamente todo mundo, em algum momento da vida, leu a 'Turma da Mônica'. Foi a nossa primeira ligação com as HQs, uma vez que o material de editoras como Marvel e DC (Comics) eram difíceis de encontrar”, recorda Magno. “Começamos a ler com essas revistinhas e depois fomos desenhando os personagens. É um universo que fala muito a língua da criança”, diz Marcelo.
Com muita nostalgia, os gêmeos retornam para esse universo por meio de suas participações em Mônica(s). “Quando esse tipo de livro é lançado, o público fica muito ansioso para ver o resultado final. Participar de um projeto grandioso como esse acaba sendo uma responsabilidade imensa. A Mônica é uma figura icônica e dar sua visão sobre ela é um desafio”, explica Magno. Segundo seu irmão, “esse tipo de convite faz com que a cabeça fique cheia de ideias. Quando você faz uma releitura sem compromisso até que é bem fácil, simples. O peso vem quando percebemos que o negócio é sério.”
No meio da seleção de opções e possibilidades que dariam certo no papel, eles seguiram caminhos diferentes. Magno buscou inspiração em mundos fantásticos, como o visto na saga A Guerra dos Tronos, para revelar uma garotinha mais guerreira. Os traços flertam com o estilo do mangá. Um ar mais urbano cerca a Mônica idealizada por Marcelo. O andreense a coloca como a líder de uma espécie de gangue juvenil formada ainda por Cebolinha, Cascão e Magali.

Ilustradores de outros países também estão espalhadas pelas páginas, com espaço para desenhos assinados pelo norte-americano Will Eisner, considerado um dos grandes mestres do quadrinho mundial e criador do herói The Spirit, e do italiano Milo Manara, conhecido por trabalhos de teor erótico.
A garotinha de vestido vermelho viaja entre o ar angelical e infantil até opções mais adultas e um tanto quanto filosóficas. Tentando manter um estilo mais tradicional e flertando com o ar de pintura antiga, José Luiz Benicio empresta seu talento para a capa. A cena prova que a Mônica já está eternizada.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Um Astro Chamado James Dean

 
A passagem de James Dean (1931-1955) pelo universo do cinema foi curta, mas importante o bastante para movimentar toda uma geração nos anos 1950 e colocar seu nome entre as maiores estrelas de Hollywood de todos os tempos. O topete estiloso, a cara séria e a atitude de um típico bad boy (em frente e longe das câmeras) ajudaram a construir a imagem do que hoje é considerado um inquestionável ícone cultural.
Seis décadas depois de sua morte, o Centro Cultural Banco do Brasil (Rua Álvares Penteado, 112. Tel.: 3113-3651), em São Paulo, celebra seu legado na mostra Eternamente Jovem – Retrospectiva James Dean. A programação começa amanhã com reunião de títulos estrelados pelo ator norte-americano e produções que se aventuraram a tentar traduzir todo um fenômeno construído nas costas de um rapaz de 24 anos. Os ingressos custam entre R$ 2 (meia-entrada) e R$ 4 e as atividades seguem até dia 16 de quarta a segunda-feira.
Entrarão em cartaz um total de 38 produções realizadas entre 1951 e os anos 2000. “As pessoas sempre falam sobre os mesmos três filmes famosos (Vidas Amargas e Juventude Transviada, ambos de 1955, e Assim Caminha a Humanidade, de 1956), mas ele já havia construído uma forte carreira nos teatros filmados que passavam na TV dos Estados Unidos. James já chegou ao cinema como um ator pronto. Coloquei essas obras para desmistificar um pouco essa ideia de astro de poucos filmes”, explica o jornalista carioca Mário Abbade, curador da retrospectiva. “Também separei documentários interessantes que exploram o James por diversos ângulos. Quis pegar e disponibilizar o máximo possível de informações para que o público pudesse ter acesso a muitas coisas que circulam seu universo. É preciso fazer um bom recorte.”
Abbade tem pesquisado a vida e obra de James Dean há 30 anos. Para a montagem da mostra, ele separou alguns itens a serem exibidos em película de 35 mm nas telonas. Entre os destaques da programação estão um dos encontros do astro com a também icônica Elizabeth Taylor (1932-2011) no drama Um Lugar ao Sol (1951); James Dean, o Mito Sobrevive (1982), no qual mulheres de um fã-clube recordam histórias sobre o ídolo; e a cinebiografia James Dean (2001), com o ator James Franco (abaixo) dando vida ao homenageado.
A curta carreira não para de gerar falsas verdades e questionáveis mentiras em torno do saudoso galã. “Muitas histórias não são comprovadas e pouco se sabe o que é realmente legítimo sobre ele. Cada descoberta acaba por gerar outro material. Descobri que o James deveria ter mais de 400 vidas para fazer tudo o que falam. O mito cresce em torno dessas dúvidas. É parte da graça”, afirma o curador.
Toda a programação e mais informações sobre a mostra Eternamente Jovem estão na página da unidade da Capital no site do centro cultural.