segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Verdades e Mentiras do Escapista

Um personagem clássico que surgiu em meio à era de ouro dos quadrinhos, ao lado de figuras icônicas como Superman e Batman. Assim é o Escapista. Parte de seus feitos pode ser conferida em As Incríveis Aventuras do Escapista (Editora Devir, R$ 44,50, 192 páginas), obra que dá oportunidade para que o herói possa ressurgir para os leitores, após anos no esquecimento. Mas será que toda essa história é verdadeira?

O personagem foi criado pelo romancista norte-americano Michael Chabon, como forma de homenagem às HQs de super-heróis. Sua invenção resume o principal ingrediente desse universo idealizado na década de 1930: o protagonista acaba sendo preso e precisa encontrar uma maneira mirabolante de escapar. O herói apresenta grande influência do famoso mágico e escapista Harry Houdini (1874-1926).

Acompanhado de seus ajudantes, o mestre do subterfúgio deixa o espaço secreto existente no Teatro Empire, de Empire City, e viaja por diversos locais do mundo disposto a prestar socorro a todos que estiverem sofrendo com as ‘correntes da opressão''.
A edição conta com aventuras escritas e desenhadas por artistas convidados, além de um roteiro do próprio Chabon. Há histórias criadas por nomes como Kevin McCarthy, Glen David Gold, Chris Offutt e Harvey Pekar, enquanto algumas ilustrações são assinadas por Dean Haspiel, Eric Wight, Scott Morse e Roger Petersen.

Diferentes estilos de desenhos e tipos de abordagens em torno do significado do personagem podem ser vistos em dez histórias.

Destaque para capítulo feito pelo saudoso Will Eisner (1917-2005). Considerado o ‘pai dos quadrinhos'', Eisner busca a simplicidade para unir o Escapista ao enigmático Spirit, seu personagem mais conhecido. A participação na coletânea ocorreu pouco antes de sua morte e o conto foi seu trabalho derradeiro.



No capítulo Escapismo 101, leitores terão acesso a todas as fases do herói, com direito a curiosidades. Galeria e biografia dos autores completam o livro.
Lembrou do Escapista? Então...

Esqueça boa parte do que você leu até então. Ao contrário do que é mostrado em páginas de As Incríveis Aventuras do Escapista, tudo é uma grande farsa (apenas sua história, não a participação de outros desenhistas). Tratar o Escapista como celebridade das antigas é uma brincadeira da obra que foi reproduzida no início desta reportagem.

Na verdade, a trajetória do personagem é recente. Ele nasceu no livro As Incríveis Aventuras de Kavalier & Clay, também de Michael Chabon. A publicação tem como pano de fundo os anos 1930 e apresenta os primos Joe e Sam criando o Escapista para seguir a nova onda de entretenimento que surgia. O projeto da HQ agora ganha vida própria por meio de contos elaborados especialmente para o super-herói.

Na publicação As Incríveis Aventuras do Escapista, leitores desavisados não suspeitam da brincadeira. O plano é bem elaborado, mas o autor confirma a trajetória mentirosa na introdução. A verdade é revelada graças a um texto de Leandro Luigi Del Manto, responsável pela edição da obra.

Del Manto afirma: "Ele nunca fez parte da nossa história sobre os quadrinhos nem foi publicado na era de ouro ou na de prata...". O Escapista pode não ter existido no passado, mas tem potencial para ter sido um ícone.

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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Corujas em Aventura Com Apelo Visual

História repleta de aventura e esperança e belo trabalho digital caracterizam A Lenda dos Guardiões, que chega hoje (08/10) aos cinemas brasileiros. A animação promete emocionar o público com enredo baseado em conto da escritora norte-americana Kathryn Lasky e aposta na mais alta tecnologia do meio para encantar aos espectadores, sejam eles adultos ou crianças. O trailer pode ser visto aqui.

O filme acompanha a jornada da jovem coruja Soren, fascinada pelos relatos envolvendo os míticos Guardiões de Ga’Hoole, que protegem sua espécie dos inimigos. Não à toa seu grande sonho é fazer parte do grupo e ser reconhecido por sua bravura.

As crenças na existência dos guerreiros fazem com que o irmão de Soren cause terrível acidente que fará com que o grupo se envolva diretamente com os maldosos Puros. A situação obriga a corajosa coruja, acompanhada de seus amigos, a mostrar seu valor para que possa encontrar a lendária Grande Árvore, casa dos misteriosos guerreiros alados.

O filme marca a estreia do cineasta Zack Snyder – diretor de produções como as também adaptações 300 (2006) e Watchmen (2009) – no comando de uma animação. Ele aposta alto e conta com ajuda dos estúdios responsáveis pelas impressionantes imagens vistas em Happy Feet – O Pinguim (2006) que apresentam outro belíssimo trabalho visual – realçado pelo inteligente (não banal) uso da tecnologia 3D.

O desempenho de A Lenda dos Guardiões pode render nova franquia cinematográfica. Caso seja um sucesso, mais livros da série homônima poderão ganhar vida virtual nas mãos dos estúdios Warner Bros, que procuram sucessor para o mago Harry Potter após o término da lucrativa cinessérie.

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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Franz Kafka Nos Traços de Robert Crumb

O cultuado escritor Franz Kafka (1883-1924) teve como característica falar sobre o homem simples que vive em meio à sociedade contemporânea. Suas mais conhecidas obras contam com personagens e aspectos que mostram a relação do ser humano em relação ao mundo de forma irônica, mas muito realista e que levam em conta experiências pessoais.

Os trabalhos e fatos da vida do tcheco ganham forma e ilustrações em Kafka de Crumb (Editora Desiderata, 184 páginas, R$ 39,90), com textos de David Zane Mairowitz e desenhos do controverso e popular Robert Crumb ­ que esteve na Festa Literária Internacional de Paraty deste ano.

A publicação não pode ser classificada apenas como um livro biográfico e se mantém interessante ao misturar traços de histórias em quadrinhos ao contexto histórico vivido pelo autor. O trabalho de pesquisa realizado por Mairowitz torna os leitores capazes de compreender, verificar e analisar os complicados questionamentos do escritor homenageado.

"Nenhum autor de nossa época, e provavelmente nenhum desde Shakespeare, foi tão mal-interpretado e ignorado", diz em um trecho.

As páginas trazem sua infância em um gueto judeu em Praga, na República Tcheca, passando pela juventude, o relacionamento conturbado com figuras de autoridade (casos do pai e do chefe em repartição pública), as dificuldades em lidar com as mulheres e o momento em que escreveu alguns dos textos mais complexos de todos os tempos. Detalhes como o vegetarianismo e o caos que isso causou na família e a preocupação com acidentes no ambiente de trabalho são revelados.

O fato de ser judeu o influenciou demais. Kafka presenciou tempos em que o nacionalismo tcheco crescia muito em relação a predominância alemã, resultando em ódio quanto a seu povo. Tais complicações fizeram com que sentisse raiva de suas raízes religiosas.

De acordo com Mairowitz: "A maioria dos judeus daquela época (ou de qualquer outra) absorvia a ameaça diária do antissemitismo e a interiorizava. Kafka não escapou dos sentimentos judeus de aversão..."

Vida pessoal e profissional se confundem e é neste momento que suas obras são apresentadas em HQ para o público. Estão presentes versões de A Toca, Na Colônia Penal, O Castelo, O Veredicto, Teatro da 'Natureza' de Oklahoma e Um Artista da Fome.


Não ficam de fora clássicos como O Processo, de 1914, que serve de base para o desenvolvimento da noção conhecida como kafkaniana, além de A Metamorfose, no qual narra as ações de Gregor Samsa quando acorda inesperadamente na forma de um monstruoso inseto.

Eles ganham o traço urbano de Robert Crumb. Com estilo rústico e underground, o ilustrador consegue manter em desenho a densidade encontrada nos textos de Kafka. As histórias são repletas de situações bizarras e que misturam tragédias e momentos engraçados, prato cheio para um Crumb que está acostumado a trabalhar com essa temática.O prefácio é assinado pelo cartunista gaúcho Allan Sieber. Conhecido pelo humor ácido e inteligente, ele reconhece o ótimo produto do livro.

"Desenho e texto encontram uma simbiose perfeita, em que o desenhista não perde personalidade nem compromete a obra do autor com firulas e maneirismos desnecessários. Parece fácil, mas não é. Kafka e Crumb, na verdade, têm muitas coisa em comum", diz. É o que se percebe durante nesta união de universos.

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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

'Comer Rezar Amar' Repleto de Descobertas

A busca pelo autoconhecimento e pela redescoberta da alegria de viver são os tópicos abordados pelo filme Comer Rezar Amar. Baseado no best-seller homônimo autobiográfico da norte-americana Elizabeth Gilbert, o longa aposta em uma história real e no carisma de sua protagonista para demonstrar o valor das pequenas aventuras que temos em nossas vidas. Segue o link para o trailer para quem não viu.

Na tela, acompanhamos a escritora Liz Gilbert (Julia Roberts), que passa por momento delicado em sua vida quando percebe a vida que sempre sonhou como mulher moderna - com um bom marido, uma bela casa e um ótimo emprego - não está lhe trazendo a felicidade que imaginou ter. O fim de seu relacionamento faz com que jogue tudo para o alto e decida tirar um tempo para si mesma.

Ela inicia viagem que irá levá-la para a Itália, para resgatar o prazer de um bom prato gastronômico, para a Índia, ponto essencial para seu renascimento espiritual, e chegando até Bali, na busca do verdadeiro sentido do amor.


Com Comer Rezar Amar, Julia Roberts volta à produções destinadas ao público feminino e que tanto lhe deram fama, dinheiro e prestígio em Hollywood. A simpatia da protagonista ainda se mostra forte e parece ganhar ainda mais força com a presença de belos cenários filmados, por exemplo, na cidade de Roma, capital italiana, e na exótica Indonésia.

Outra estrela cinematográfica do filme é o ator espanhol Javier Bardem. Ganhando cada vez mais espaço nos Estados Unidos, ele vive o brasileiro Felipe, com um estranho sotaque quando falas algumas palavras em português. Apesar do esforço, não lembra o bom ator vencedor do Oscar.

Os acontecimentos relatados no livro servem apenas como base para a trajetória de Liz, sendo que alguns leitores podem estranhar algumas mudanças. Mas nada que deixe de lado a ideia central de autoconhecimento.

Em alguns casos, as diferenças rendem interessantes curiosidades, como o fato de que na passagem da escritora pela Itália, ela se uniu a torcedores do Lazio. No filme, Roberts se vê em meio a um grupo fanático da Roma, grande rival do time de futebol original descrito no livro.

O diretor Ryan Murphy (responsável por episódios das séries Glee e Nip/Tuck) não tenta criar nenhum clássico moderno e faz uma simples mistura de drama, comédia e romance norteada pelos três verbos que esquecemos em tantos momentos de nossas vidas.

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Scarygirl Vale Mais Como Arte

Para muitos personagens, o caminho natural de sua trajetória é partir das páginas das histórias em quadrinhos para outros meios de divulgação. Não é o que ocorreu com Scarygirl (Editora ARX, R$ 42,90, 128 páginas), famosa no meio virtual e no mercado de toy art, que acaba de ganhar versão no formato de graphic novel.


O potencial visual da pequena garota deformada é muito bem aproveitado e chama atenção pela qualidade de seu material artístico e gráfico.

Criada pelo australiano Nathan Jurevicius ­ que mora atualmente no Canadá ­, Scarygirl ganhou fama, principalmente entre os jovens, graças ao jogo online gratuito disponibilizado em seu site oficial. A mistura entre universo dark com figuras que podem ser consideradas extremamente infantis chega a lembrar o clássico do stop-motion O Fantástico Mundo de Jack (1993), de Tim Burton.


O livro mostra a estranha menina sendo abandonada em uma praia remota. Ela tem a ajuda de Blister, um polvo gigante que começa a tomar conta da nova protegida. Em um de seus sonhos, Scarygirl tem a visão de um homem misterioso o qual não faz ideia de quem seja.

A aparição faz com que novos questionamentos ­ além do mistério de como ela foi parar naquele local ­ apareçam e a protagonista acredite que o encontro com a figura de seus delírios é essencial para lhe dar respostas. No caminho de sua jornada, conhece outros bizarros personagens, caso do coelho místico Bunniguru, do bondoso gigante Sewer Giant e do malvado rato Chihoho.

Detalhe para o fato de que toda história não conta com diálogos ou qualquer tipo de texto. A apresentação dos seres ocorre nas páginas iniciais e finais, que também apresentam suas características ­ igualmente estranhas.

O miolo da publicação conta com espaço especial dedicado à entrevista com o criador de Scarygirl. Muito do que ele diz ajuda a entender o colorido projeto. "O universo de Scarygirl partilha algumas regras e filosofias com o nosso mundo (...) O mundo também gira em torno da ideia de que nem sempre as coisas são o que parecem ser e que os pontos fortes de alguém são apresentados por meio de suas fraquezas", explica Nathan Jurevicius.

As 'páginas rosadas' trazem interessante acervo com ilustrações inacabadas que chamam atenção.

Como graphic novel, a HQ serve como ótimo exemplo de trabalho visual de qualidade. Outro ponto importante de Scarygirl é seu enorme potencial no mercado de toy art (peças destinadas a adultos com objetivo de enfeitar ambientes). Alguns bonecos feitos a partir dos personagens são apresentados aos leitores com infográficos detalhados.
Os braços deformados, as cabeças com diferentes formatos e a grande quantidade de cores faz em do mundo de Scarygirl prato cheio para as mais variadas vertentes da cultura pop.

Segue o site da personagem para quem se interessar pelo seu universo divertido e bizarro www.scarygirl.com

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