segunda-feira, 15 de junho de 2009

Filmologia - Duplicidade e a Surpresa

Fui no cinema para assistir Anjos e Demônios.

E o cinema estava lotado. Exterminador do Futuro 4 também estava lotado. Sobrou o que? Esse filme do qual eu não tinha ouvido falar muito, Duplicidade, Clive Owen, Julia Roberts. "Clive Owen? Ah, legal. Julia Roberts? Ah, nem tanto. Mas, ei, tem o Paul Giamatti e o Tom Wilkinson! Vai valer a pena por alguma coisa pelo menos" pensei eu.



Há uns.. 6 ou 7 anos eu não entro no cinema no mesmo estado que eu entrei. Sem saber quase nada sobre o filme. Com o advento da internet, eu me viciei em procurar saber tudo sobre filmes, sendo que eu normalmente sei o que vou pensar do filme antes de assistí-lo. Os Trailers honestos já me dizem tudo o que eu preciso saber sobre o o que achar do filme. Poucos são os filmes que guardam seus trunfos para a telona, e menos ainda são os que tem trunfos válidos.

Em Cavaleiro das Trevas, eu sabia que ia gostar. Não sabia que ia gostar tanto, mas esse filme foi um em milhares. Wall-E pode se dizer que foi outro. Normalmente as críticas acabam estragando a surpresa. E eu inadvertidamente leio praticamente todas sobre filmes que me interessam.

A última vez que isso me aconteceu foi com Jogo de Espiões, de Tony Scott. Entrei a contragosto no cinema, saí extasiado. Completamente surpreendente para quem não esperava nada, e eu ainda falarei desse filme aqui. Mas vamos ao que interessa.

Duplicidade é o segundo filme dirigido pelo roteirista Tony Gilroy (que roteirizou todos os filmes da saga de Jason Bourne), sendo que o primeiro, o drama corporativo Michael Clayton, foi indicado a um zilhão de prêmios (e deu para Tilda Swinton o Oscar de atriz coadjuvante, quando todos esperavam uma vitória de Cate Blanchett na sua interpretação de Bob Dylan). Este filme também fala da maldade por trás de corporações gigantes, mas puxa para a comédia.

E é uma excelente comédia. Leve, porém irônica ao extremo, acompanhando as desventuras de dois espiões corporativos no meio de jogadas, mentiras, traições e um romance não tão inesperado. Clive Owen e Julia Roberts mostram uma química muito bem vinda, e Owen mostra, acredito pela primeira vez, uma veia cômica competente, sem cair em avacalhação. Esse é um filme sutil, mesmo quando não é sutil.

A não sutileza fica aos encargos de Paul Giamatti, como um terrível CEO de uma empresa, disposto a trapacear, matar, roubar e destruir para dar um passo à frente dos concorrentes. Tom Wilkinson faz um CEO concorrente, muito mais resguardado. A cena de créditos do início do filme já é, para mim, a melhor cena de créditos do ano, assim como a melhor cena de luta. Ela estabelece com que tom você será abordado pelo resto do filme, o que se deve esperar.

Depois do filme você acaba pensando que assistiu um tipo de "Onze Homens e um Segredo", mas esta comédia é bem mais inteligente do que George Clooney roubando cassinos com reviravoltas a cada 5 minutos. Esse é um filme cuidadosamente construido, que certamente não vai agradar a todos. Mas é um filme que sabe rir de si mesmo. Sabe fazer piadas internas e te levar às risadas com um simples olhar de descrédito de Clive Owen.

Saí do cinema satisfeito. Personagens muito bem criados, muito bem interpretados. Um roteiro divertido, um romance que na cabeça de uns pode parecer desnecessário, mas não fica tão forçado não. Vamos dar um crédito aos pobres espiões, vai. Não saber nada do filme dessa vez me fez muito bem. Um filme de baixa divulgação e pouca atenção na mídia deve ser assistido. Assim você descobre. Descobrir mesmo, achar, encontrar. Você sabe o que esperar de Wolverine, de Transformers 2, de T4, de Anjos e Demônios. Vá assistir um filme pequeno uma vez na vida, se arrisque. Vale a pena.

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