quinta-feira, 2 de julho de 2009

Filmologia - Deixe Ela Entrar



I SP TERROR. Uma excelente iniciativa para os amantes do cinema, especialmente o cinema de Terror, que não é lá muito cotado pelo público geral aqui no Brasil como "cinema de qualidade". Entrem no site, dêem uma olhada, e já que o festival está acabando, corram para a Av. Paulista 900 ou se preparem para o ano que vem.

Mas eu vou falar agora sobre um filme grotesco de bom, que desdo ano passado já angariava críticas positivas no exterior, e que me chamou a atenção quando eu vi o trailer na internet.



Oskar é um garoto de 12 anos solitário, que mora nos subúrbios de Estocolmo. Apanha dos valentões da escola, tem a família separada, até aqui normal. Parece que você já viu esse filme. Então ele conhece uma garota, Eli, uma nova vizinha, e aos poucos descobre que ela é uma vampira.

Neste momento, assim como eu, você pode estar pensando em todos os clichês pelo qual essa premissa passa. Mas a verdade é completamente outra. Deixe Ela Entrar é um filme extremamente original, muito delicado, feito com muito cuidado e sempre dando importância para os personagens e seu desenvolvimento.

A amizade arrebatadora de Oskar e Eli é algo identificável a todos. Ele se fixa nela por ela ser um refúgio à sua solidão, por ele ser um pária onde vive, e ela a mesma coisa. Vê nele um refúgio para o fato de que ela tem 12 anos há muito tempo. A amizade dos dois, sem julgamentos, sem distorção de valores, pura e inocente, é uma das coisas mais fascinantes do filme. Kåre Hedebrant e Lina Leandersson carregam o filme com sua doçura e sua honestidade.

Mas não se engane, esse é um filme de terror. Leve isso às últimas consequências. Quando Eli tem fome, ela tem fome mesmo e nada pode pará-la. O terror integra-se com a amizade dos dois, de maneira que você não consegue separar uma parte do filme da outra. E esse terror também é filmado com extremo cuidado, e muito realismo. Não é um vampiro que você já viu antes, mas faz todo o sentido. A cena que dá nome ao filme (que como o livro em que foi baseado, pega inspiração da música "Let The Right One Slip In, do Morrisey) é inovadora e aterrorizante, usando o mito de que um vampiro só entra na sua casa se convidado.

Outro ponto alto do filme são seus efeitos visuais. Por vezes você se impressiona com a computação gráfica, usada na maior parte do tempo para alterar assustadoramente os olhos de Eli, e também numa cena envolvendo gatos. É bem legal ver filmes de países que não estamos acostumados usando a computação da maneira que aparentemente os americanos não aprenderam a usar. Nada de estardalhaço, tudo sutil, para criar o clima.

As cenas "de ação" também fazem parte do "menos é mais". Por esconder a violência e só sugerir, (mesmo que a sugestão seja muito pouco sutil) o filme se torna mais visceral, mais cativante, investindo muito mais no suspense do que no gore. A cena da piscina já pode ser consierada um clássico, já que todos na saída do cinema e em críticas por aí comentam tanto a genial forma de mostrá-la como a brutalidade dela.

Um filme genuíno sobre amizade infantil, com o drama e o terror da suposição fantástica, sem perder a sensibilidade. Tem uma carga emocional tremenda, uma fotografia ótima e uma trilha sonora memorável e instigante. Esse filme é uma surpresa, e deve ser assistido de perto, com atenção. Aplausos para o diretor Thomas Alfredson.

(Nota: Qual é o problema? O problema é que esse filme já teve seus direitos vendidos para ser refilmado nos EUA. Se ele não for picotado, transformado em uma coisa barata e que não tem um pingo da sensibilidade e da qualidade do original, será a primeira vez.)

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