quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Fábula Urbana Sem Palavras

Além das belas ilustrações que chamam a atenção de todos que desviam o olhar para observar as imagens, as histórias em quadrinhos também dependem de uma interessante narrativa para se dar bem. O método mais comum é a utilização de diálogos entre os personagens, fazendo com que os leitores compreendam com exatidão os acontecimentos mostrados. Mas nem só de falas e escrita sobrevivem as publicações. Uma trama criativa e a simplicidade do roteiro foram o bastante para dar origem a Taxi (Independente, R$ 10, 32 páginas).

A obra do quadrinista Gustavo Duarte mostra que a máxima Uma Imagem Vale Mais Que Mil Palavras continua a ser verdadeira. O autor paulista não aposta em aventuras intergalácticas ou personagens superpoderosos que tem o trabalho de derrotar vilões maléficos. Ele tem como fonte de inspiração seu próprio cotidiano e as paixões pessoais. No caso, referentes ao desenhos e ao jazz.Com imagens em preto e branco, Duarte apresenta as pequenas desventuras de um músico que, ao chegar no local no qual irá se apresentar, lembra-se de ter esquecido sua case em um bar. Preocupado com o atraso, o jazzista pega um táxi que tem como motorista um simpático elefante vestido com calça, camisa e suspensórios. O que parecia ser uma corrida simples, acaba se tornando um conto com elementos divertidos e surreais. Não poderia faltar a inesperada surpresa para finalizar a HQ.

Tudo que foi resumido nos últimos parágrafos é contado sem nenhuma palavra presente nas páginas. Apenas alguns letreiros de locais e do próprio táxi são escritos. As ilustrações em sequencia foram pensadas com precisão para que o público possa acompanhar o enredo e não tenha dúvidas do que acabou de 'ler'. A estrutura dos quadrinhos lembra as tirinhas vistas em jornais. Detalhe para o título da obra, sem o acento agudo e se assemelhando mais ao mercado internacional. A escolha foi feita devido a ambição de Duarte de levar seu trabalho a diferentes países.
Alguns leitores podem achar que o trabalho tenha um ar infantil, mas é a imaginação do autor que caracteriza Taxi. A paixão pelo universo dos desenhos deixou a mente de Duarte aberta para transformar elementos infantis, caso da humanização de animais, em dose de humor certeira. É quase impossível não notar um sorriso sincero no rosto de quem o folheia.

Outra forte influência notada vem do jazz. O livro já é notado de forma diferente devido a seu formato de 20 x 20 cm, referência as capas de discos. A opção pela ausência de cores casa de forma positiva com o ritmo musical dançante. O figurino dos personagens e o ambiente remetem ao mundo vivido pelo jazzista que protagoniza a história. Apesar de dividirem espaço com outros personagens menores, a dupla principal tem carisma o bastante conquistar o leitor nas poucas páginas do livro.
"Os personagens, sempre muito bem escolhidos, delineados por um estilo elegante e preciso, transbordam carisma e carregam o leitor por toda a história", diz a apresentação da HQ. A viagem de táxi atrás de um case esquecida acaba por se tornar uma gostosa fábula.

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