quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Filmologia - Pulp Fiction


Esta é uma coluna nova que estamos começando, e ela vai falar de filmes. Filmes de qualquer tipo, de qualquer época. Muito velhos ou não, bons ou ruins. A única coisa que eles tem em comum é que são filmes relevantes. Por sua fotografia. Por sua época. Por seus atores. Por um mínimo detalhe. Por sua completa falta de sucesso em qualquer coisa que tentou ser. Por ser um perfeito exemplo do que não se deve fazer.

Cinema é arte, mas ninguém entende o que é arte. Arte é algo completamente diferente para qualquer pessoa. Posso garantir que os próprios integrantes desse blog discordariam em diversas coisas sobre arte. Dessa forma, sinta-se à vontade em comentar, responder, da forma que quiser. Falar sobre filmes se baseia acima de tudo em opiniões e interpretações. De maneira que o que eu falo pode estar certo, mas pode estar errado se o contexto for mudado, ou até se a pessoa for outra. A não ser quando eu estiver falando de coisas absolutas, como Stanley Kubrick ou Uwe Boll, sinta-se à vontade para me contrariar o quanto quiser. Discutam, solte o verbo mesmo!

Já que o fato mais enlouquecedor que a internet nos trouxe recentemente foi o trailer do novo filme do Quentin Tarantino, o Yuki me pediu para escrever sobre Pulp Fiction.



Quem assistiu meros dois filmes do Quentin Tarantino sabe que ele gosta muito de fazer um cinema autoral, e que não curte determinado gênero. Seu primeiro filme, Cães de Aluguel, tem lá muito em comum com seu segundo, mas a partir daí ele foi criando histórias cada vez mais diversas, que atravessam gêneros.

Tarantino não faz “filmes”, ele faz “homenagens”. Cada filme seu é como um abraço caloroso em seu avô, aquele avô que te ensinou muito, que te impressionava com histórias fantásticas, que hoje em dia pode muito bem não receber o valor que deve.

Pulp Fiction homenageia as Pulps, histórias policiais regadas à violência e intriga dos anos 40. Personagens traiçoeiros, normalmente envolvidos com alguns tipos de máfia, se envolvendo em esquemas de corrupção onde normalmente muita gente acaba indo para o necrotério.

Quentin Tarantino tem várias marcas registradas. Uma delas é contar uma história fora de ordem. Dela eu vou falar em outro parágrafo. Outra de suas marcas é ressuscitar carreiras de atores esquecidos. E um ator que ficou memorável por esse filme não é ninguém menos do que o dançarino John Travolta, que fez o mundo chacoalhar o esqueleto nos anos 70, e mais nada de expressivo desde então. Travolta interpreta um capanga, nada mais do que um office boy armado e com licença para matar, que se envolve em várias histórias paralelas enquanto tenta simplesmente completar tarefas aparentemente simples para seu chefão, interpretado por Ving Rhames. Acompanhando Travolta está Samuel L. Jackson, no papel que o lançou ao estrelato e criou o seu estereótipo: palavras sujas, incisivas, e muito chumbo grosso.



Temos ainda no elenco Bruce Willis, Uma Thurman, Harvey Keitel, Tim Roth, e o próprio Tarantino, montando um teatro de coisas que dão errado, que dão certo, tudo fora de ordem.

Uma vez ouvi um comentário que dizia que Pulp Fiction foi retirado de sua ordem cronológica sem lógica, somente para criar incômodo. Que esse era o intuito de Tarantino, criar estranheza. A outra marca registrada de Tarantino, além de seus zooms histéricos, é sua aparente ausência de crono-lógica. Mas eu discordo. Pulp Fiction foi editado completamente em cima de sua necessidade emocional e narrativa. Do começo ao fim preocupado em contar uma história, em surpreender, em criar tensão, despertar curiosidade.

Um exemplo é o personagem de Samuel L. Jackson, que some em determinada parte do filme. Sua ausência é muito sentida, especialmente pelo personagem de Travolta. Mas só depois você vai entender o porque desse sumiço. Uma cena propositalmente adiada, que explica no momento certo o porquê. E cria a reação desejada do público.

Há também o uso do chamado “Talking Heads”. Personagens que conversam sobre coisas que aparentemente não tem nada a ver com a trama. Algo único no cinema. Cenas memoráveis, falas memoráveis. Trilha sonora inesquecível. Todos os filmes do Tarantino tiveram isso até agora, e aparentemente todos terão.

Não posso me alongar muito mais. Dá para encher semanas de posts falando sobre Pulp Fiction, mas nenhuma frase resume melhor do que “Se não assistiu, assista!”.

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