terça-feira, 14 de abril de 2009

A síntese de Eastwood do cinema atual


Muita gente que conversei, achou Gran Torino fraco ou apenas "normal demais pros filmes doo Clint". Até os entendo. O primeiro solavanco veio com Sobre Meninos e Lobos que não implacou por estar no ano ingrato de Senhor dos Anéis. Depois veio o avassalador Menina de Ouro justo ganhar e competentíssimo o alarde que causou.

Menina de Ouro (2004)

Pouco depois vieram os de guerra que mostram os dois lados da moeda: Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima, excelentes filmes éticos dos prós e contras pra guerra inclusive pra quem acha que Americanos apenas contam suas glórias da guerra. Agora no final de 2008, mais uma carga de dois filmes: A Troca, com Angelina Jolie num papel incrível, e Gran Torino.

Gran Torino (2008)

Ver Gran Torino depois de acompanharparte de sua carreira, é dizer que até mesmo os velhos amadurecem. Depois de passar pela mão de brilhantes diretores como Sérgio Leone nos seus filmes de Western Spaghetti e pelas mãos de Don Siegel da série Dirty Harry, o "make my day" deve ter sido dito no justo ano em que ganhou o prêmio pelo excelente filme Os Imperdoáveis em que nos créditos finais ele dedica: "Para Sérgio e Don". Se tem um filme que mais visível se nota este agradecimento fazer efeito, é justamente em Gran Torino.

Em Sobre Meninos... existe uma personalidade de Clint diluída em dois personagens: a fúria indomável do cowboy com os nervos a flor da pele ficou ao cargo de Sean Penn, que age rápido e inconsequente, na qual age sob efeito inclusive do mote dos filmes de faroeste: "Aqui se faz, aqui se paga" (comum também em puteiros). Tarantino já mexeu com o mote western em Kill Bill usando muito o termo que mais pesa: a vingança.

Sobre Meninos e Lobos (2003)

Porém, o dedo na ferida que Sobre meninos... mais trabalha, seja o fator de questionar de quem é a culpa. Sua outra essência mais contida, adquirida nos filmes de Siegel, nota-se no personagem de Kevin Bacon: policial duro, frio e guarda uma culpa familiar marcada pelo telefone que toca e nunca responde até que no final, ao personagem assumir erros, a voz do outro lado responde. Esse misto de personagens, permeiam sempre os filmes de Eastwood.

A Troca (2008)

Gran Torino talvez seja o amadurecimento do amadurecimento, da verdade de como os velhos são esquecidos sendo eles heróis ou não. O personagem Walt Kowalski chega nos planos como os mesmos homens perigosos e provocadores que sempre estiveram nos filmes que Eastwood fez ou atuou. Porém, o complexo de "ação e reação" atinge dentro da alma do personagem ao ver o que acontece com sua vizinha e ele se descontrola numa sequência belíssima em meia-luz.
O que resta ao velho esquecido, é a frase que aprendeu sozinho pela vivência da guerra e não pelos sermões que o Padre que o persegue tenta convencer: a redenção não vem sem sacrifício, e isso só se firma num dos planos mais belíssimos em que o personagem cai em forma de cruz no chão.

A herança disso tudo, fica no convívio com o jovem Thao, vizinho que de ladrão que tentou roubar seu Gran Torino na garagem para se justificar na gangue dos Hmmong, vira uma espécie de filho que aprende a ser durão. Aos desavisados que esperavam derramamento de sangue, perderam a cois amais bela dos filmes de Eastwood: uma sísntese de tudo que fez, mostrando que mesmo velho e as vezes esquecido (de forma antropológica), o diretor ainda tem o dom de repensar sua vida, e a vida de seu cinema que não pára jamais de respirar.

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